A Suíça e São Paulo (1860-2025)
165 anos de presença consular no Estado de São Paulo
Linha do Tempo
Cronologia - ondas migratórias e diplomacia
Século XIX
Decreto do rei de Portugal Dom João VI de “abertura dos portos brasileiros às nações amigas”, para atrair os imigrantes europeus, permitindo-lhes o acesso à propriedade de terra.

Auguste Frédéric de Meuron instala na Bahia a fábrica de rapé Arêa Preta.
Consumir rapé era hábito comum no Brasil até o início do século XX.
Decreto real de 6 de maio de 1818 autoriza a instalação de cem famílias suíças na antiga Fazenda do Morro Queimado, dando base para o surgimento da cidade de Nova Friburgo.
Em condições precárias e insalubres, os primeiros suíços atravessam o Atlântico e formam a colônia de Nova Friburgo/RJ, um marco na história da imigração suíça no Brasil.
Início de uma atividade consular suíça no Rio de Janeiro.

Proclamação da Independência, de François-René Moreaux (1844).
No dia 7 de setembro de 1822 foi proclamada a Independência do Brasil. O país transformou-se em uma monarquia governada por Dom Pedro I.

Henrique Manzo - Fazenda Ibicaba - Limeira, 1845, Acervo do Museu Paulista da USP.
O Senador brasileiro Nicolau de Campos Vergueiro convida Charles Perret-Gentil a visitar sua Fazenda Ibicaba (próximo a Limeira), no interior de São Paulo, que vai se tornar o berço da colonização suíça no Estado de São Paulo.
Com a Guerra de Sonderbund na Suíça, que dividiu católicos conservadores e protestantes progressistas, e a crise econômica que se seguiu, mais suíços – na maioria, pobres – decidem emigrar, em busca de uma vida melhor no Brasil.

Afresco de William Michaud de vinhedos na Colônia do Superaguy.
A partir de 1850, crescem a imigração e as colônias suíças no Estado de São Paulo. Limeira, Rio Claro, Amparo, Jundiaí, Pirassununga e Piracicaba possuíam 26 colônias de imigrantes europeus, dentre elas havia 251 famílias suíças.
Charles Perret-Gentil compra terras no Estado de São Paulo e implanta a Colônia Superagui, na Ilha das Peças/PR.

Guilherme Gaensly/Coleção Gilberto Ferrez - Acervo Instituto Moreira Salles.
Pelo sistema de ‘parceria’ do Senador Vergueiro, famílias suíças se instalam no interior de São Paulo, perto de Campinas, para trabalhar na colheita do café.
Perret-Gentil pede demissão e funda com o Senador Vergueiro uma agência para imigração, em Santos. Atendendo sua substituição no cargo, segue como Cônsul-geral até a nomeação de Niklaus Heinrich David.

A Revolta de Ibicaba. O sistema de ‘parceria’ não é satisfatório e os imigrantes suíços reclamam. A revolta é liderada pelo mestre-escola suíço Thomas Davatz e foi um protesto para reivindicar melhores condições de trabalho para os colonos na fazenda do Senador Vergueiro.
Ao longo dos anos 1850, o governo suíço manifesta sua preocupação com as condições dos imigrantes suíços no Brasil. Sensibiliza o público na Suíça sobre os riscos da emigração (1852), intervém junto às autoridades brasileiras (1857) e, em 1859-1860, manda para o Brasil os enviados especiais Dr. Heusser e o naturalista Jean-Jacques von Tschudi.
A Confederação Suíça e o Brasil assinam uma Convenção Consular, instrumento diplomático que estrutura as relações e define regras de proteção para que oriundos da Suíça e do Brasil possam viver ou trabalhar no outro país.
Paralelamente, outras colônias suíças foram se estabelecendo no sul do Brasil, nos Estados de Santa Catarina (Joinville) e Rio Grande do Sul (imigração do cantão suíço do Valais).
Freio na imigração. A repercussão dos relatórios de Davatz e mais tarde, de Jean-Jacques von Tschudi, em 1860, a oposição do governo suíço à imigração e a Guerra na Europa Franco-Prussiana impedem novas emigrações para o Brasil.

Coleção Thereza Christina Maria – Acervo Fundação Biblioteca Nacional.
Promulgada no Brasil a Lei do Ventre Livre, em 28 de setembro de 1871, que concede liberdade aos filhos de mulheres escravizadas nascidos no Brasil a partir desta data.
Criação da Associação Suíça de Beneficência Helvetia de São Paulo para amparar os imigrantes necessitados, nos moldes da associação filantrópica do Rio de Janeiro, fundada 59 anos antes.

Adolpho Lutz e Bertha Lutz no Pavilhão Mourisco com visitante - Acervo da Casa de Oswaldo Cruz (COC.Fiocruz)
Suíços de São Paulo. Adolpho Lutz volta ao Brasil após concluir os estudos na Suíça. Nascido no Rio de Janeiro, seu trabalho como sanitarista foi fundamental na erradicação de várias epidemias no país. De 1893 a 1908 dirigiu o Instituto Bacteriológico que, após fundir-se a outro laboratório, deu origem ao Instituto Adolfo Lutz.

Emancipação de alguns imigrantes com a fundação da Colônia Helvetia: as quatro famílias do cantão de Obwalden – Amstalden, Ambiel, Bannwart e Wolf – com a baixa do preço das terras, compram o sítio Capivary-Mirim. Os primeiros imigrantes de Obwalden tinham chegado em 1854.

Jean Baptiste Debret, Punição pública dos escravos, “Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil”
A Lei Áurea, aprovada em 13 de maio de 1888, aboliu o trabalho escravo no Brasil.
Fortalecimento da necessidade de mão-de-obra e, portanto, da imigração.

Guilherme Gaensly – Avenida São João/Acervo Instituto Moreira Salles
Suíços de São Paulo. O suíço Guilherme Gaensly é considerado um dos melhores fotógrafos de São Paulo. Ainda garoto, veio com a família para Salvador/BA e abriu seu primeiro estúdio em 1871. Mudou para São Paulo e registrou a transformação da cidade em metrópole, os elegantes casarões da Avenida Paulista, os bondes e as plantações de café no interior do estado.
Com o processo iniciado pelo Brasil para criar uma “colônia suíça modelo”, a colônia Funil, apoiada por imigrantes de Zurique e Argóvia, mas com a oposição do governo suíço, deu origem ao Núcleo Campos Salles, hoje Cosmópolis, cidade do interior de São Paulo. A colônia atraiu ainda 11 famílias de imigrantes suíços do Chile, aos quais se juntaram alemães, austríacos e outros suíços que já moravam no Brasil.

Embarque de suíços para o Brasil no porto de Gênova, Itália, década de 1920 – Acervo Memorial do Imigrante/SP
Nesse período, mais de 10 mil suíços emigraram para São Paulo. A imigração suíça muda da agricultura para os setores da indústria e serviços.

Fonte: Wikipédia
O cônsul suíço Aquilles Isella – e um grupo de 21 acionistas – cria a Société Anonyme des Chocolats Suisse de São Paulo, que fabricava chocolates em formato de meia-lua, vendidos em sua própria loja, A Suíça, à época localizada na Rua José Antônio Coelho, na Vila Mariana, em São Paulo. A empresa foi vendida em 1916 e deu origem à Lacta, marca de sucesso até hoje.
Início da Primeira Guerra Mundial, que durou até 1918, deixou milhões de mortos e terminou com a assinatura do Tratado de Versalhes em 1919. A imigração diminuiu durante esse período.

Primeira fábrica da Nestlé no Brasil, inaugurada em 1921, em Araras/SP
Hoje, a subsidiária tem mais de 20.000 funcionários, com unidades de produção em oito estados brasileiros e 25 cidades.

Suíços de São Paulo. Convidado por Oswald de Andrade, o pintor, decorador, escultor e artista gráfico suíço John Louis Graz expôs sete obras durante a Semana de Arte Moderna de 1922, um marco e um divisor de águas no cenário artístico brasileiro.
Suíços de São Paulo. Max Wirth cria a ‘Fazenda Suissa’ no interior de São Paulo, um vasto território agrícola muito inexplorado, onde se lançará na produção de café e na pecuária, ainda ativos atualmente. Investidor em terras, ele funda em 1941 o que mais tarde vem a ser a cidade de Oswaldo Cruz.

Suíços de São Paulo. O Brasil marcou profundamente a obra do escritor franco-suíço Blaise Cendrars, que veio pela primeira vez ao país em 1924, a convite do mecenas Paulo Prado. Os modernistas brasileiros faziam parte de sua seleta lista de amigos. O escritor voltou ao país em 1926 e 1928 e dedicou o poema “São Paulo” à cidade que adorava.
Em turnê na Argentina, o maestro brasileiro Heitor Villa-Lobos encontrou-se com o maestro suíço Ernest Ansermet que, na época, dividia suas atividades entre a Orchestre de la Suisse Romande e a Filarmonica de Buenos Aires. Villa-Lobos decide doar-lhe o manuscrito completo de seu poema sinfônico o Tédio de Alvorada, que foi redescoberto recentemente na Suíça, nos Arquivos Ernest Ansermet, mantidos pela Biblioteca Municipal de Genebra "La Musicale".

A crise de 1929 também afetou o Brasil. Os EUA eram o maior comprador de café, principal produto da economia brasileira. Com a queda nos preços e menos importação, muitos cafeicultores investiram no setor industrial, o que acelerou o processo de industrialização no Brasil.

Suíços de São Paulo. O arquiteto franco-suíço Le Corbusier visita São Paulo e elabora uma proposta urbana inovadora para a cidade que, embora não realizada, terá grande influência na arquitetura modernista brasileira. O modernismo de Le Corbusier inspirou arquitetos e urbanistas como Lucio Costa e Oscar Niemeyer quando da construção de Brasília, entre 1956 e 1960.
Suíços de São Paulo. O nome do engenheiro suíço Roberto Auguste Edmond Mange está ligado à criação do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), em 1942. Foi o primeiro diretor regional do SENAI São Paulo. Antes, tinha vindo ao Brasil em 1913, como convidado, para ensinar Engenharia Mecânica na Escola Politécnica de São Paulo. Implantou em 1923 o curso de Mecânica no Liceu de Artes de São Paulo.

Adolfo Lutz e Bertha Lutz, 28 julho 1936, posse da sra. Bertha como deputada na Câmara Federal, RJ.
Fundação em São Paulo da SWISSCAM, a mais antiga Câmara de Comércio Suíça da América Latina. Possui hoje mais de 150 membros e organiza eventos para promover as relações comerciais entre a Suíça e o Brasil.
Suíços de São Paulo. Zoóloga e diplomata, Bertha Lutz, filha do suíço Adolpho Lutz, foi pioneira na luta pelo direito de voto das mulheres brasileiras. Ela integrou a delegação brasileira na Conferência de São Francisco em 1945 e foi uma das quatro mulheres a assinarem a carta de criação da Organização das Nações Unidas - ONU

Unidade Tripartida/Max Bill
A representação suíça na 1ª Bienal de São Paulo, em 1951, teve papel decisivo na arte concreta brasileira. O Museu de Arte Moderna de São Paulo comprou um dos quadros de Sophie Taeuber-Arp. Os artistas Leo Leuppi, Richard Paul Lohse, Walter Bodmer, Oskar Dalvit, Otto Tschumi, Georges Froidevaux e Claude Loewer completavam o grupo suíço. O prêmio máximo da Bienal foi concedido à escultura Unidade Tripartida, de Max Bill.

Sophie Taeuber-Arp, Composição com Diagonais e Cruz (1916) - Domínio público
Transformação do Consulado de São Paulo em Consulado-geral. Assume o cônsul-geral Ephyse Darbellay, primeiro Cônsul de carreira da representação suíça.

“Minha família são os Yanomami”. A fotógrafa suíça Claudia Andujar veio para São Paulo em 1955, quando comprou seu primeiro aparelho fotográfico. Natural de Neuchâtel, foi viver entre Roraima e Amazonas depois de conhecer os Yanomami. Desde os anos 70 vem captando o espírito desse povo e lutando para preservar a sua cultura. Suas imagens estão no Museu de Arte Moderna de Nova York, na Fundação Cartier de Arte Contemporânea em Paris, na Pinacoteca do Estado de São Paulo e no pavilhão dedicado à sua obra, no Instituto Inhotim, em Brumadinho/MG.
Criação do Clube Esportivo Helvetia por 300 associados, quase todos suíços, da Associação Suíça de Beneficência, na Chácara do Jabaquara.

Fundação da Escola Suíço-Brasileira de São Paulo, que possuía apenas 53 alunos. Desde 1996 é membro da Organização do Bacharelado Internacional – IB, é reconhecida pelo Governo suíço e tem atualmente cerca de 800 alunos (80% brasileiros), com ensino bilíngue em português e alemão.
A Embaixada da Suíça é transferida do Rio de Janeiro para Brasília.
Criação da Escola SENAI Suíço-Brasileira Paulo Erneste Tolle em São Paulo, como resultado de uma cooperação técnica entre a ONG suíça Swisscontact, especializada em formação profissional, e o SENAI-SP, para formar técnicos em mecânica de precisão.
Estabelecimento do “Residencial Sênior Retiro Suíço”, uma moradia para idosos, da Associação Suíça de Beneficência Helvetia, em Campo Limpo Paulista, a 60km da capital, em meio a muita área verde.
Fundação da Arco Associação Beneficente, pelo casal Sidney Vinha e Fritz Mauti, para promover o desenvolvimento integral de famílias pobres da região do Jardim Ângela, zona sul de São Paulo. Além de educação infantil e juvenil, a ONG incorporou ao longo do tempo novos programas e projetos para adequar seu trabalho social às demandas da comunidade.
A BRASCRI – Associação Brasil Criança foi fundada em 1993 pelo pastor suíço Hans Jürgen Martin e sua esposa Margrit Martin, no bairro paulistano de Santo Amaro.
Mantida por doações do Brasil e da Suíça, presta apoio a crianças e jovens com ações de inclusão social de crianças surdas, melhoria da educação de jovens na rede pública de ensino e promoção do desenvolvimento profissionalizante.
O escritório no Brasil da agência suíça “Turismo da Suíça” foi aberto em 2004 e é hoje integrado ao Consulado-Geral da Suíça. Por meio de campanhas de marketing, eventos e feiras do setor, encarrega-se de promover os destinos turísticos suíços para férias, viagens e conferências.
O casal suíço-brasileiro Alberto e Adriana Eisenhardt fundou a Casa dos Curumins, na zona sul de São Paulo, para promover a inclusão sociocultural de crianças, jovens e idosos socialmente vulneráveis. A Associação oferece atividades educativas, lúdicas, culturais, artísticas e esportivas, acolhe hoje 500 crianças e jovens e presta assistência às suas famílias. Um dos projetos foi a formação da Banda dos Curumins, que já se apresentou em 2023 no Festival de música Estival Jazz em Lugano, na Suíça.
Abertura do Swiss Business Hub no Consulado-Geral em São Paulo. Representa a S-GE (Switzerland Global Entreprise), agência oficial de promoção de exportações e investimentos e tem por missão viabilizar novos negócios no país.
Abertura da Swissnex, escritório da agência governamental ligada à Secretaria de Estado de Educação, Pesquisa e Inovação, no Consulado-Geral do Rio de Janeiro
e desde 2016 no Consulado-Geral de São Paulo.
Em 2018 a Universidade de St. Gallen inaugurou a sede do St. Gallen Institute of Management in Latin America (GIMLA), na Avenida Paulista, no mesmo edifício onde se situa o Consulado-Geral da Suíça em São Paulo.

Desde 2020 o maestro suíço Thierry Fischer é Diretor Musical e Regente Titular da OSESP (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo). Sua trajetória como regente começou aos 30 anos, com a Orquestra de Câmara da Europa. Realizou turnês internacionais, gravou vários discos e em 2012 recebeu o Prêmio ICMA (International Classical Music Awards) por Der Sturm (A Tempestade), de Frank Martin, com a Orquestra Filarmônica e Coro da Rádio Holandesa.
A Fundação Pro Helvetia – financiada pela Confederação suíça – se estabeleceu em São Paulo a partir de 2021. Seu objetivo é promover intercâmbios interculturais e artísticos entre o Brasil e a Suíça.
O Conselheiro federal Guy Parmelin, Chef do Ministério da Economia, Educação e Pesquisa visitou o Brasil, liderando a maior delegação oficial suíça a vir ao país (mais de 140 pessoas em São Paulo). Na ocasião, foi assinado um Protocolo de Intenções, reforçando as relações bilaterais entre a Suíça e o Estado de São Paulo no âmbito da economia, tecnologia, inovação e sustentabilidade.
“Brasil e Suíça Juntos”: o maior evento cultural organizado pelo Consulado-Geral, aconteceu na Sala São Paulo, com um concerto do maestro suíço Thierry Fischer para um público de 1.200 pessoas, uma mostra de 10 retratos de suíços no Brasil, o lançamento do livro “Uirapuru – do Tédio de Alvorada ao Uirapuru”, de Manoel Corrêa do Lago e Guilherme Bernstein, na ocasião de uma grande recepção.
A Suíça tornou-se o 5º maior investidor estrangeiro no Brasil. O número de empresas suíças ativas atualmente no país é de mais de 550, gerando mais de 90 mil empregos de alta qualidade.

A bandeira da Suíça é hasteada pela primeira vez na frente do prédio do Consulado-Geral, na Avenida Paulista, depois de um longo processo administrativo e com o apoio das autoridades.