A Suíça e São Paulo
165 anos de presença consular no Estado de São Paulo (1860 – 2025) – à luz da imigração suíça.
Sylvie Doriot Galofaro, a partir de pesquisa realizada de maio 2023 a fevereiro 2025.
Sumário
2ª parte: A Suíça e os Suíços na megalópole de São Paulo nos séculos XX e XXI
10)1903–1953: Transferência do vice-consulado de Santos para a cidade de São Paulo e sua transformação em consulado e consulado-geral
1901 Os argumentos para a transferência do vice-consulado de Santos para cidade de São Paulo
Em seu retorno definitivo à Europa, o Vice-cônsul suíço em Santos, Arnold Wildberger, pediu para ser dispensado de suas funções consulares, “o que foi aceito pelo Conselho Superior Federal em sua reunião de 5 de março de 1901, com agradecimentos pelos serviços prestados”. Wildberger deixou Santos em 10 de abril daquele ano, depois de entregar o vice-consulado ao Sr. Edouard Muller, de nacionalidade alemã, também da firma Auguste Leuba & Cie em Santos, que foi nomeado “gerente temporário” até a escolha final do local. O Cônsul-geral da Suíça no Rio de Janeiro, Eugène Emile Raffard, encarregou seu filho Henri Raffard de elaborar um relatório, propondo ao Conselho Federal que a sede do vice-consulado fosse transferida – definitivamente – para São Paulo. Eis o que ele escreveu em 1901:
“Como a Suíça não tem marinha, a emigração da Suíça para Santos é insignificante e há pouquíssimos suíços morando na cidade, não há justificativa para manter o vice-consulado do Estado de São Paulo em Santos”. Foi Henri Raffard quem apoiou a ideia de transferir o escritório para São Paulo, mas ele ainda tinha que encontrar argumentos para a mudança de Santos para São Paulo:
“O estado tem agora uma população de cerca de 2.300.000 habitantes, incluindo 520.000 estrangeiros, e sua capital, a cidade de São Paulo (com uma temperatura média anual de 19 graus centígrados), 250.000, sendo 170.000 estrangeiros e 80.000 brasileiros. O comércio atacadista, que havia sido monopolizado por Santos, foi gradualmente transferido para São Paulo, e Santos agora é pouco mais do que o entreposto comercial do Estado, do qual é o único porto em serviço ativo”.
Em seguida, ele destaca o serviço alfandegário, que também instalou um escritório em São Paulo. A cidade de São Paulo é a sede de “todas as Altas Autoridades Públicas do Estado de São Paulo” e é justamente com essas Altas Autoridades que o vice-consulado suíço deve entrar em acordo. Ele acrescentou, entretanto, que às vezes seria necessário solicitar a assistência direta do Consulado-Geral no Rio de Janeiro.
Quanto à importância relativa da colônia suíça na cidade de São Paulo, Henri Raffard compara as listas de membros das instituições de caridade suíças em São Paulo e no Rio de Janeiro. A “Sociedade Filantrópica Suíça” no Rio de Janeiro, fundada em 21 de maio de 1821, tinha 133 membros em 1900, enquanto no mesmo ano a “Helvetia” em São Paulo, fundada em 16 de maio de 1881, tinha 101, revelando o desenvolvimento significativo dos compatriotas suíços em São Paulo.
Henri Raffard apresenta os candidatos para suceder Wildberger como Vice-cônsul. O documento ilustra as dificuldades em encontrar a pessoa certa para defender os “compatriotas” suíços, e tudo isso “graciosamente”:
- “O Dr. Adolphe Lutz, do cantão de Berna, é o diretor do Instituto Bacteriológico de São Paulo, criado e mantido pelo governo paulista e, consequentemente, não está em uma posição independente para defender seus compatriotas […]”.
- J. M. Zimmermann, do Cantão de Berna, […].
- O Sr. Guilherme Gaensly, do cantão de Turgóvia, altamente louvável por sua excessiva retidão, possui um estúdio de fotografia que lhe fornece apenas o suficiente para viver e não lhe permitiria aceitar uma posição livre.
- O Sr. Jean-Jacques Kesselring, do cantão de Turgóvia, […].
- Johann Schwegber, do cantão de Zurique, atualmente na Europa, […].
- Adolphe Steffen, do cantão de Zurique, 51 anos, que está no país há muito tempo, tendo sido parte interessada em empresas suíças na Bahia e no Rio de Janeiro e, há alguns anos, em uma das mais importantes empresas de São Paulo, […].
Do exposto, conclui-se que, embora eu apoie a transferência para São Paulo do Vice-Consulado Suíço para o Estado de São Paulo, sinto que devo propor o adiamento da nomeação do respectivo titular até um momento mais oportuno, mantendo temporariamente o status quo do Vice-Consulado em Santos sob a administração temporária do Sr. Edouard Muller. Rio de Janeiro, 7 de maio de 1901, Henri Raffard” (AF 1901, arquivo digital Sylvie Doriot).
1903 -1908: Jean-Jacques Kesselring, o primeiro Vice-cônsul em São Paulo (1903 – 1908)
Com a morte do Cônsul-geral no Rio de Janeiro, Emile Eugène Raffard, em 1902, Friedrich Auguste Weguelin o sucede, este por sua vez tentou encontrar um sucessor para Wildberger, mantendo várias discussões com a colônia suíça. Apenas um candidato surgiu, Jean-Jacques Kesselring. Com base nessa proposta, que foi aceita pelo Departamento Político Federal (FDP), o Conselho Federal decidiu, em sua reunião de 3 de março de 1903, transferir a sede do vice-consulado para São Paulo e nomear Jean-Jacques Kesselring como Vice-cônsul (honorário).
Documento de arquivo da nomeação de Jean-Jacques Kesselring, AF Berna 1903, arquivo digital Sylvie Doriot.
Kesselring nasceu em 1843, originário de Märstetten, no cantão de Turgóvia, e foi um “comerciante” em São Paulo antes de assumir seu cargo de vice-cônsul suíço até 1908.
O endereço do Vice-Consulado é Caixa postal 227, o que indica que ainda não há um endereço oficial para o Consulado, apenas uma caixa postal.
Sucessão do vice-cônsul a cônsul de São Paulo Achilles Isella em 1908, arquivos AF 1903-1908.
Achilles Isella foi nomeado Cônsul de São Paulo pela Confederação em 22 de novembro de 1908, Arquivos AF 1906-1908.
Auguste Weguelin, Cônsul Geral do Rio em 1902.
1908 Transformação em consulado e nomeação do 1º Cônsul-geral da Suíça em São Paulo
A questão de transformar o vice-consulado em um consulado foi levantada logo no início por Kesselring, que se aposentou no final de 1906, mas foi retomada por seu vice, Achilles Isella. Esse ponto se tornou ainda mais relevante quando o Consulado-Geral da Suíça no Rio de Janeiro foi elevado à categoria de Legação em 1907. Em 13 de março de 1908, o Conselho Federal decidiu elevar o Vice-consulado Suíço em São Paulo à categoria de consulado e nomeou Achilles Isella para o cargo. O endereço do consulado era Rua Visconde do Rio Branco 49 (Anuário Federal).
Achilles Isella representou a Suíça em São Paulo por 35 anos, como adjunto (1906-1908) e depois como cônsul (1908-1941). Nascido em 2 de maio de 1865, natural de Orte Morcoto, no distrito de Lugano, no Ticino, ele vivia em São Paulo desde 1891. Era um homem empreendedor. A história da famosa fabricante brasileira de chocolates Lacta, conhecida por suas marcas e produtos de sucesso, começou em 21 de janeiro de 1912, por iniciativa do cônsul suíço Achilles Isella que, junto com um grupo de 21 acionistas, criou a Société Anonyme des Chocolats Suisse de São Paulo. A empresa fabricava chocolates em formato de meia-lua e os vendia em sua própria loja, chamada “A Suíça”, no bairro da Vila Mariana, em São Paulo. Com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, em 1914, ficou difícil importar produtos da Europa. A empresa foi vendida em 1916 e se tornou a Lacta, uma marca que existe até hoje.
1953: Transformação em Consulado-Geral e nomeação do 1º Cônsul-geral da Suíça em São Paulo, Oswald Morand
Ephyse Darbellay sucedeu Achilles Isella como cônsul em São Paulo. Ele foi nomeado em 1942 e foi o primeiro cônsul de carreira da representação, pois seus antecessores eram todos cônsules honorários. Após sua morte em 1952, o ministro suíço no Rio, Edouard Feer, recomendou que a representação fosse elevada à categoria de Consulado-Geral. São Paulo transformou-se no centro financeiro e industrial do Brasil, tendo um papel importante para toda a América Latina. “A maioria dos países industrializados há muito tempo abriu Consulados Gerais em São Paulo, cujos cônsules são geralmente diplomatas especializados em questões econômicas. Essa é a solução adotada pelos Estados Unidos, Holanda, Alemanha, França e Grã-Bretanha, que nomearam como cônsules-gerais em São Paulo agentes que atuaram como consultores econômicos nas legações de seus países no Rio de Janeiro.”
O DPF (Departamento Político Federal) foi cauteloso por motivos orçamentários, preferindo adiar a transformação da representação em um Consulado-Geral por alguns anos. Por fim, a autorização foi acordada, após os pareceres positivos da Divisão de Comércio e do Conselho Executivo da União Suíça de Comércio e Indústria (Vorort). Quanto à escolha do Cônsul-geral, Oswald Morand, que tinha sido primeiro colaborador diplomático encarregado de assuntos econômicos na Legação no Rio de Janeiro, foi o escolhido. Ele poderia ser nomeado sem qualquer aumento de salário. Em 11 de dezembro de 1953, a indicação foi aprovada pelo Conselho Federal: o Consulado foi transformado em Consulado-Geral, e Oswald Morand foi nomeado, mas sem aumento de salário. A representação estava então localizada na Rua Caio Prado 193.
11)Evolução da questão migratória e da indústria de São Paulo
1912 Imigração e colonização suíças continuam
Na Gazeta de Notícias de 1912, o Dr. Pedro de Toledo, Ministro da Agricultura, responde às perguntas feitas pelo Sr. André Borel, professor da Escola Cantonal de Cernier/Ecole cantonale de Cernier, no cantão de Neuchâtel, na Suíça: O governo concede terras gratuitas aos agricultores que desejam se estabelecer no Brasil? Quantos hectares ou acres? Quais são os preços comuns das terras?
O Ministro Toledo respondeu que, assim que os imigrantes chegam aos portos brasileiros, até o final de seu assentamento, dependendo de suas profissões e desejos, as condições são atendidas para povoar a terra. Após visitas das autoridades fiscais, de saúde e policiais, os imigrantes recebem as terras. Se os colonos preferirem lotes sem casas para construir a seu gosto, isso é concedido. Os chefes de família também podem obter um novo lote, assim que concluírem o pagamento do primeiro lote, mas para isso é necessário que a família tenha pelo menos cinco pessoas capazes de trabalhar ou que o cultivo do primeiro lote tenha sido cuidadosamente desenvolvido. Os serviços médicos e farmacêuticos, bem como o correio, são organizados assim que os primeiros imigrantes chegam.
1914 – 1918 Primeira Guerra Mundial e diminuição da emigração
O Brasil ainda precisa de mão de obra agrícola, e ainda há muitos planos para colonizar o país. Alguns projetos de instalação de laticínios e fabricação de queijos no modelo suíço foram “insuficientemente preparados”, como no caso do projeto Visconde de Mauá, no estado do Rio de Janeiro, que, no entanto, atraiu 219 suíços em 1908 e 1909, de acordo com Arlettaz (1979). Todavia, a eclosão da Primeira Guerra Mundial, com a Europa em guerra, também teve um reflexo na diminuição da emigração.
1929 -1950 Da queda no preço do café à diversificação industrial em São Paulo
No Brasil, a crise de 1929 levou a uma queda nos preços do café e, consequentemente, à falta de moeda estrangeira, que não estava mais entrando como antes. Os brasileiros não podiam mais comprar do exterior, o que estimulou a produção industrial, mas a capacidade de produção não aumentou devido à falta de capital. A partir de 1935, o aço compensou a falta de produção de café, e várias pequenas empresas surgiram, incluindo fábricas de cimento e de papel. Após a Segunda Guerra Mundial, a produção de café aumentou novamente, juntamente com produtos de metal, têxteis, calçados, bebidas e tabaco, cujas importações haviam sido interrompidas pela guerra. A partir de 1950, o governo interveio para acelerar o processo de industrialização, dando continuidade à construção dos altos-fornos de Volta Redonda. De acordo com Frédéric Mauro (1979), a cultura do algodão substituiria parcialmente a cultura do café no Estado de São Paulo.
Com o desenvolvimento acelerado, São Paulo se transformou ao longo do século XX numa megalópole (1900: 240.000 habitantes / 2000: 10 milhões de habitantes e 19 milhões para a região metropolitana), os suíços passaram a se destacar nesse novo contexto por suas atividades científicas, industriais e culturais.
12)Algumas personalidades suíças que marcaram o século XX em São Paulo
O fotógrafo Guilherme Gaensly (1843 -1928) e seus registros de São Paulo
O fotógrafo Guilherme Gaensly, natural do cantão da Turgóvia, na Suíça, nascido em 1843, um dos nomes indicados para suceder o vice-cônsul Wildberger, foi reconhecido como um dos melhores fotógrafos de São Paulo depois de abrir um estúdio fotográfico, primeiro em Salvador da Bahia, com Rodolfo Lindemann, e depois em São Paulo, na Rua Quinze de Novembro, 28. Ele deixou Salvador em 1894, em consequência da seca que teve um impacto direto nos seus negócios. Entre 1894 e 1897, publicou uma série de grandes impressões fotográficas de São Paulo. Ele testemunhou o nascimento de uma metrópole, atraída pela riqueza gerada pelas exportações de café, cuja força motriz era a abundante mão-de-obra escrava, substituída pela dos imigrantes após a abolição da escravatura. Com seu olhar registrou as grandes casas aristocráticas da Avenida Paulista e os bondes nas ruas de paralelepípedos. Ele visitou as fazendas de café de Araraquara, Ribeirão Preto, Campinas, São Manoel e Santa Cruz das Palmeiras, no interior de São Paulo.
Guilherme Gaensly/Avenida Paulista (1902?) – Acervo Instituto Moreira Salles.
Bondes nas ruas de paralelepípedos de São Paulo – Guilherme Gaensly/Avenida São João cc 1902- Acervo Instituto Moreira Salles.
Por mais de vinte anos, fotografou para a São Paulo Tramway Light and Power Company (mais tarde Electropaulo), o que lhe permitiu exercitar seu talento para paisagens. Também trabalhou para a Secretaria de Estado da Agricultura. As edições do livro “São Paulo” (1894 e 1895), de Gustav Köenigswald, são ilustradas com a primeira série de paisagens da capital paulista, do fotógrafo suíço. Os estúdios Gaensly & Lindemann produziram as fotos da formatura da turma de geógrafos da Escola Politécnica. Em 1899, a partir de suas fotografias da cidade, foram produzidos cartões postais mostrando os principais edifícios e os lugares mais pitorescos de São Paulo. Suas imagens panorâmicas de São Paulo foram apresentadas na Exposição Universal de Paris em 1900.
Em 1912, o estúdio de Gaensly mudou-se para a Rua Boa Vista, 39, no centro da cidade. Gaensly morreu de pneumonia em São Paulo, em 1928. Devemos lembrar também que foi ele quem tirou as fotografias mais impressionantes – sua arquitetura e seus trabalhadores – da fábrica de rapé de Auguste-Frédéric de Meuron, nascido em Neuchâtel, em Salvador/Bahia, nos anos 1870-1880 (Doriot 2024).
O pioneiro do oeste de São Paulo Max Wirth (1881 – 1952), a “Fazenda Suissa” e a fundação da cidade de Oswaldo Cruz
Max Wirth (1881-1952), nascido em Liechtenstein, era filho único do proprietário de uma fábrica de tecidos, emigrou para o Brasil em 1898. Convidado pela família Schwegber, fundadora da Sociedade de Beneficência Suíça de São Paulo (1880), se estabeleceu no município de São Sebastião da Alegria, no Estado de São Paulo, onde permaneceu por cinco anos, até ser acometido pela malária e retornar à Suíça em 1904. Em 1905, casou-se com Bertha Keiser, natural de Zug, e assumiu a administração dos negócios da família. Em 1907, nasceu sua primeira filha, Anne-Marie Wirth; em 1910, sua segunda filha, Martha Johanna Wirth; em 1913, seu terceiro filho, Max Wirth Jr.; e, em 1914, Hans Ernest Wirth. Nesse mesmo ano, sua esposa morreu de embolia pulmonar com apenas 28 anos de idade, e Max Wirth decidiu retornar ao Brasil. Três anos depois, em 1917, ele se casou com a babá de seus filhos, Emilie Lang (apelidada de “Milly”) e, em 1918, nasceu seu quinto filho, Hans Peter Wirth, seguido, em 1919, por Emil Wirth e, em 1922, por sua última filha, Verena Emilia. Em 1921, ele vendeu a fábrica de tecidos que havia herdado de seu pai, a Spinnerei & Weberei Dietfurt AG, e partiu para São Paulo, onde aguardou a chegada de sua família, em agosto de 1922.
Com sua esposa e seus sete filhos, decidiu se estabelecer no oeste do Estado de São Paulo, um vasto território agrícola ainda pouco explorado, na cidade de Lins, perto de Bauru, onde constituiu uma fazenda chamada “Fazenda Suissa”, que começou com a produção de café e depois englobou outras culturas, ali chegaram a morar 220 famílias, e cuja história se estende pelo século XX.
Max Wirth também investiu na aquisição de terras, comprando grandes propriedades em áreas pouco povoadas no oeste do Estado. Em 1941, ele fundou uma vila de 5.000 acres perto de Marília, que chamou de “Califórnia” e que mais tarde se tornou a atual cidade de Oswaldo Cruz. Em 19 de junho de 1947, o Ministro suíço no Rio de Janeiro, Charles Medard, escreveu ao Cônsul Ephyse Darbellay, em São Paulo, sobre sua intenção de visitar a comunidade suíça no Estado de São Paulo, assim como o Governador do Estado, Adhemar de Barros, entre 15 e 30 de julho de 1947, e assim viajar para Santos, Helvetia, Campinas, “e talvez também para a Fazenda Modelo do Sr. Max Wirth em Oriente” (AF 1947, arquivos digitais de Sylvie Doriot). Isso será confirmado em uma carta, que descrevia o programa completo do cônsul, na Fazenda Oriente. Max Wirth morreu de um ataque cardíaco em São Vicente/São Paulo, em 31 de dezembro de 1952.
Em janeiro e fevereiro de 2025, a autora encontrou Angela Wirth, neta de Max Wirth e filha de Hans Ernest Wirth, que em colaboração com seu primo Alexander Schweizer forneceu as seguintes informações sobre sua família: a irmã de Max Wirth Jr, Hanne Wirth, casou-se com Peter Schweizer e tiveram um filho, Alexander Schweizer. Os descendentes seguiram o trabalho do pai e do avô Max Wirth, adquirindo novas terras, e concentraram-se na cultura da cana de açúcar, soja, café e pecuária.
Max Wirth e esposa. Fonte: site Suíços do Brasil.
O médico suíço Adolpho Lutz (1885 – 1940) e sua filha diplomata Bertha Lutz (1894-1976)
Diante dos desafios impostos pelas doenças que se proliferaram no Estado de São Paulo na segunda metade do século XIX, o cientista suíço Adolpho Lutz (1855-1940) teve papel fundamental na erradicação das epidemias de febre amarela, cólera, peste bubônica, febre tifoide, malária, ancilostomíase, esquistossomose, leishmaniose e hanseníase.
De 1893 a 1908, Adolpho Lutz dirigiu o Instituto Bacteriológico de São Paulo, fundado em 1892, segundo o modelo do Instituto Pasteur de Paris, como laboratório de saúde pública, que mais tarde se tornaria o Instituto Adolfo Lutz. Ele se destacou como o membro mais experiente e bem-preparado de um grupo ainda pequeno de médicos que, no Rio de Janeiro e em São Paulo, estavam na vanguarda do processo de estabelecimento da medicina pasteuriana e “tropical” e de sua utilização em benefício da saúde pública.
Ele nasceu no Rio de Janeiro em uma família tradicional de Berna. Seu avô, Friedrich Bernard Jacob Lutz, foi chefe do serviço médico do exército da Confederação Helvética. Seus pais, Gustav Lutz e Mathilde Oberteuffer Lutz, emigraram em 1849, sua mãe fundou o Colégio Suíço-Brasileiro no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro. Adolpho partiu para a Suíça aos dois anos de idade e só retornou ao Brasil em 1881, quando completou seus estudos de medicina em Berna e depois em outras universidades europeias, incluindo Londres. Ele iniciou sua carreira na pequena cidade de Limeira, no Estado de São Paulo.
Ele era cirurgião, botânico, parasitologista, microbiologista e higienista. Sua morte teve uma profunda influência sobre sua filha Bertha Lutz: “Somente a natureza e os interesses que compartilhávamos me mantiveram viva”, escreveu ela em homenagem ao pai. Nascida em São Paulo, zoóloga, mas também diplomata e pioneira na luta pelo direito de voto das mulheres brasileiras, em 1945, Bertha Lutz integrou a delegação brasileira na Conferência das Nações Unidas em de São Francisco/EUA em 1945, e foi uma das quatro mulheres a assinar o documento fundador da Organização das Nações Unidas/ONU.
Adolpho Lutz e Bertha Lutz no Pavilhão Mourisco com visitante – Acervo da Casa de Oswaldo Cruz (COC.Fiocruz)
Adolphe Lutz/Fonte: site Suíços do Brasil.
Adolpho Lutz observa material no microscópio do Instituto Bacteriológico, 1908 – Museu do Instituto Adolfo Lutz, Centro de Memória.
O “Pestalozzi brasileiro” Roberto Mange (1885 – 1955) e o SENAI
Muitos professores suíços desempenharam um papel decisivo na história educacional do Brasil: os princípios educacionais progressistas de Heinrich Pestalozzi (1746-1827), nascido em Zurique, e Johann Emmanuel von Fellenberg (1771-1844), logo ecoaram no Brasil, onde o castigo físico nas escolas foi abolido em 1854, de acordo com Carlos Oberacker (1967). Também não podemos deixar de mencionar Jean Piaget, cujo pensamento teve um grande impacto no século XX, no Brasil e no mundo.
Um dos maiores educadores suíços no Brasil foi, sem dúvida, Roberto Mange (1885-1955), nascido em La Tour-de-Peilz, no cantão de Vaud. Ele se formou em engenharia na Politécnica de Zurique em 1910 e, três anos depois, veio para o Brasil para lecionar engenharia mecânica na Politécnica da Universidade de São Paulo, onde construiu as primeiras máquinas de açúcar no Brasil. Em 1930, junto com Ítalo Bologna, fundou o centro de treinamento vocacional da Estrada de Ferro Sorocabana. Quatro anos depois, participou da gestão e do desenvolvimento do Centro de Formação Profissional dos Ferroviários de São Paulo (CEFESP).
Foi apelidado de “Pestalozzi brasileiro” por ter sido um dos fundadores do SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) em 1942, a mais importante instituição de treinamento vocacional do país, juntamente com líderes industriais como Roberto Simonsen e Euvaldo Lodi. Foi o primeiro Diretor Regional do SENAI de São Paulo (1942-1955). Em 1953, criou o Serviço de Adaptação Profissional para Cegos no SENAI de São Paulo. Lembrando que o ensino profissionalizante é uma das instâncias mais fortes na estrutura educacional da Suíça, até os dias de hoje.
Roberto Mange também dedicou parte de seu tempo ao trabalho social, colaborando com a Liga das Senhoras Católicas, o Centro Educacional Dom Duarte, a Associação de Assistência à Criança Deficiente e o Instituto de Menores do Estado de São Paulo. Ele se naturalizou brasileiro em 1939.
Roberto Mange/Fonte: site Suíços do Brasil.
1922 Artistas suíços na Semana de Arte Moderna
De 13 a 17 de fevereiro de 1922, aconteceu em São Paulo um dos eventos mais importantes da História da arte brasileira, a Semana de Arte Moderna. O Brasil lançou assim um importante movimento artístico, o Modernismo, primeiro na pintura, depois na música, no teatro e na literatura. A escolha do ano de 1922 para a realização do evento, que ficou conhecido como “Semana de Arte Moderna de 22”, foi uma tentativa de transformar a comemoração do centenário da independência brasileira em um manifesto de emancipação artística. Em 1921, artistas e intelectuais, mecenas e empresários progressistas promoveram na cidade de São Paulo um movimento que repercute até os dias de hoje como uma nova referência para pensar a identidade brasileira. De todos os nomes da elite cafeeira paulistana que ajudaram a financiar o evento, Paulo Prado se destaca, principalmente por sua conexão com a intelectualidade modernista da época e também por ter influenciado outros investidores a contribuírem com a Semana.
Neste período o trânsito de artistas e intelectuais brasileiros com a Europa era constante, e o intercâmbio artístico foi intenso, dentre eles, destacam-se dois artistas suíços, cujos nomes passaram a integrar a Semana de Arte Moderna e a história da arte brasileira, John Graz (1881-1980) e Blaise Cendrars (1887-1961).
John Louis Graz (1881 – 1980) e a arte moderna no Brasil
O pintor, decorador, escultor e artista gráfico suíço John Louis Graz (1881-1980) participou da Semana de Arte Moderna de 1922, a convite de Oswald de Andrade, o poeta brasileiro do Manifesto Antropófago (1928). Graz expôs sete obras e começou a colaborar com a revista “Klaxon”, porta-voz do grupo modernista. Em 1930, formou o Grupo 7 com Regina Graz, Antonio Gomide, Elizabeth Nobling, Rino Levi, Victor Brecheret e Yolanda Mohalyi. Em 1932, foi membro cofundador da Sociedade de Arte Pró-Moderna e conheceu Blaise Cendrars em São Paulo.
Em sua cidade natal, Genebra, ele estudou na Escola de Belas Artes, e em seguida passou pelos ateliês da vanguarda parisiense. Em 1920, vem para São Paulo e casa-se com a artista brasileira Regina Gomide, irmã de Antonio Gomide, seu contemporâneo na Escola de Belas Artes, em Genebra. A partir de 1969, John Graz passou a se dedicar exclusivamente à pintura. Suas viagens pelo norte e nordeste do Brasil o impulsionaram a criar paisagens e retratos com numa nova perspectiva formal. Ele reformulou suas pinturas, antes inspiradas nas paisagens suíças, a partir dos amplos espaços abertos do Brasil, combinando o modernismo arquitetônico com a natureza tropical. Viúvo, ele se casou novamente com Annie em 1974, que manteve sua coleção de obras preservadas no Instituto John Graz, atualmente sob a responsabilidade de seus descendentes, em São Paulo.
A obra de John Graz mostra que o mesmo conceito se estende de painéis pintados a móveis, objetos, iluminação e jardins. Ele trabalhou em projetos com Gregori Warchavchik e Rino Levi, dois grandes nomes da arquitetura moderna.
John Graz/ Fonte: site Suíços do Brasil.
John Graz/The blue fish (O peixe azul), Aquarela, 1979 – Acervo Instituto John Graz.
O escritor Blaise Cendrars e sua paixão pelo Brasil
Frédéric Louis Sauser, conhecido como Blaise Cendrars, escritor suíço e francês, nasceu em 1887, em La Chaux-de-Fonds, Suíça, e morreu, em 1961, em Paris. Aos 17 anos de idade, viajou para a Rússia, e, em 1911, para Nova York, onde escreveu seu primeiro poema. Durante a Primeira Guerra Mundial, ele se alistou como voluntário estrangeiro no exército francês. Ferido em 1915, seu braço direito foi amputado e ele foi dispensado. Em 16 de fevereiro de 1916, naturalizou-se cidadão francês.
Em 1924, seu amigo Paulo Prado o convidou para viajar ao Brasil pela primeira vez e o apresentou aos círculos artísticos e literários. Ele retornou a Paris em setembro de 1924, exatamente quando o compositor brasileiro Heitor Villa-Lobos (1887-1959), seu amigo radicado em Paris, preparava seu retorno ao Brasil em outubro.
Em 25 de janeiro de 1926, Blaise estava de volta ao Brasil. Conviveu com a cena artística local, viajou e descreveu o Brasil em prosa e verso, como poeta, etnógrafo, sociólogo, historiador. Esteve em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Amazonas.
Blaise Cendrars visitou o Brasil sete vezes e, assim como foi influenciado por sua experiência brasileira, contribuiu com o modernismo no Brasil. Cendrars escreveu vários poemas sob essa inspiração, muitos dos quais foram traduzidos para o português por Patrícia Galvão, a Pagu, um dos principais nomes do modernismo paulistano. Dedicou à cidade de São Paulo o “Poema à Glória de São Paulo” e muitos outros poemas, como A Metamorfose do Café, publicado por Blaise Cendrars em 1927, em São Paulo, antes da grande crise cafeeira de 1929.
J’aime cette ville/São Paulo me va droit au cœur/rien ici de traditionnel/pas de préjugé/ancien ou moderne (extrait du poème « São Paulo »).
Blaise Cendrars/Fonte: site Suíços do Brasil.
Joaquim de Souza Queirós, Marinette Prado (sra. Paulo Prado) e Blaise Cendrars, no Copacabana Palace, 1926 – Acervo particular.
Le Corbusier (1887–1965), a prosperidade brasileira, São Paulo e Brasília
O arquiteto moderno franco-suíço Le Corbusier teve uma influência significativa na arquitetura modernista brasileira.
Durante a presidência de Juscelino Kubitschek (1956-1961), a prosperidade do Brasil atingiu seu auge. Esse foi o período em que a futura capital do país, Brasília, estava sendo construída, o que representou um grande ônus para a economia brasileira. A arquitetura moderna de Le Corbusier inspirou os arquitetos e urbanistas brasileiros Lucio Costa e Oscar Niemeyer, com quem estabeleceu um diálogo arquitetônico que levou a mútuas influências. O governo francês encomendou a Le Corbusier a elaboração de planos para a Embaixada da França na nova capital do Brasil, projeto não realizado. O Ministro do Interior do Brasil lhe disse: “Decidimos seguir o caráter de nossas empresas modernas ditado por suas teorias. O senhor já construiu para nós, no Rio de Janeiro, o Palácio do Ministério da Educação Nacional e Saúde Pública”. Os princípios modernos da abordagem arquitetônica de Le Corbusier também inspiraram a construção de Brasília.
A influência de Le Corbusier na construção modernista foi decisiva. O arquiteto visitou o Brasil em três ocasiões: 1929, 1936 e 1962.
Em sua passagem de 1929, mais precisamente pelo Rio de Janeiro e São Paulo, a convite de Paulo Prado intermediado pelo poeta suíço Blaise Cendrars, proferiu conferências para colegas e estudantes interessados em sua atuação como artista e pensador de vanguarda. Em São Paulo, descobriu que havia arquitetos que já produziam a arquitetura moderna, a exemplo de Gregori Warchavchik (1896-1972) e Rino Levi (1901-1965). Desse encontro nasceu o convite para Warchavchik comparecer aos Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna (CIAMs), como representante da América do Sul.
Le Corbusier deixou alguns marcos de sua passagem por São Paulo. Desenhou em croquis um projeto urbanístico para a cidade: “Para vencer as sinuosidades do planalto de São Paulo, repleto de colinas, podem-se construir autoestradas em nível, sustentadas por arranha-terras.
Que magnífico aspecto teria este lugar! Um aqueduto maior do que o de Segóvia, uma Ponte du Gard gigantesca! O lirismo ali teria seu espaço.”
Le Corbusier teria desenvolvido também um projeto de residência para a família Prado, que apesar dos muitos esboços e troca de correspondências, nunca foi concretizado.
Testemunho também da repercussão de sua presença em São Paulo, o Edifício Esther, na Avenida Ipiranga, em frente à Praça da República, de 1935, projetado por Adhemar Marinho e por Álvaro Vital Brazil, adotou os cinco princípios formulados pelo mestre franco-suíço que se tornariam os fundamentos para a arquitetura moderna: pilotis, planta livre, fachada livre, janelas em fita e terraço jardim.
Em 1936, convidado como consultor pelo arquiteto e urbanista Lúcio Costa (1902-1998) e sua equipe, Le Corbusier colaborou no projeto do Ministério de Educação e Saúde – atual Palácio Gustavo Capanema, na cidade do Rio de Janeiro, sede do Ministério da Educação, tombado em âmbito federal pelo Iphan – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, prédio onde se reconhecem praticamente todos os seus princípios construtivos.
Em 1962 em sua terceira e última viagem ao Brasil vai até a recém-inaugurada capital Brasília acompanhado de Lúcio Costa, Oscar Niemeyer e Ítalo Campofiorito. A viagem a Brasília foi em parte também pelo convite para projetar o edifício da Embaixada da França, projeto não concluído.
Painéis da exposição Le Corbusier – A arquitetura moderna declarada Patrimônio da Humanidade, realizada pela Embaixada da Suíça e Consulado-Geral da Suíça em São Paulo, no Museu da Casa Brasileira, em 2022.
Croquis desenhado por Le Corbusier para a cidade São Paulo, publicado no livro ‘Precisões sobre um estado presente da arquitetura e do urbanismo’, em 1930 (publicado no Brasil pela Cosac & Naify)
1951 Retrospectiva Max Bill no MASP e a Unidade Tripartida
O ano de 1951 foi o ano das artes suíças e sobretudo de Max Bill (1908-1994) em São Paulo. Além de ganhar o grande prêmio da 1ª Bienal de Artes de São Paulo, com a escultura Unidade Tripartida/ Dreiteilige Einheit (1948-1949), tem a primeira retrospectiva da sua obra no Museu de Arte de São Paulo-MASP, com grande repercussão entre os artistas brasileiros, que viviam novas experiências no campo das artes visuais.
De fato, estas exposições são consideradas como marcos que desencadearam o movimento concreto e neoconcreto no Brasil.
A representação suíça na 1ª Bienal de Artes de São Paulo contou com a presença marcante da sala Sophie Taeuber-Arp, composta por oito pinturas, e as quatro telas de Richard Paul Lohse. A delegação apresentou um retrato diversificado da arte suíça moderna, para além da arte concreta. A seção também incluiu obras de Leo Leuppi, Walter Bodmer, Oskar Dalvit, Otto Tschumi, Georges Froidevaux e Claude Loewer.
Não se tratava de um quadro completo da criação artística suíça moderna, pois faltou, por exemplo, Paul Klee, bem como os dois artistas de vanguarda Le Corbusier e Alberto Giacometti, que estavam morando em Paris em 1950, razão pela qual não foram convidados a representar a Suíça em São Paulo.
Todavia, para o crítico Romero Brest, a representação suíça era “a única nota plenamente moderna, atrevidamente moderna na exposição”.
Em 1953, Max Bill retornou ao Brasil, para fazer parte da 2a. Bienal de São Paulo. Aproveitando sua presença no país, pronunciou conferências sobre arquitetura na Faculdade de Arquitetura da Universidade de São Paulo-FAU/USP e no Museu de Arte Moderna no Rio de Janeiro.
Max Bill – Unidade Tripartida, 1948/49, vencedora do grande prêmio da 1ª Bienal de Artes de São Paulo, em 1951.
Coleção Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo – Foto: Romulo Fialdini/Tempo Composto.
Em 1951, o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand MASP), organizou a exposição ‘As obras de Max Bill’, a maior e mais completa mostra individual fora do continente europeu do pintor,
escultor, arquiteto e designer suíço Max Bill (1908-1994) Foto: Peter Scheier – Acervo do Centro de Pesquisa do MASP.
Claudia Andujar, arte e amor pelo Brasil dos Yanomami
Nascida em Neuchâtel, na Suíça, em 1931, a fotógrafa Claudia Andujar percorreu um longo caminho até chegar em São Paulo, em 1955, quando comprou seu primeiro aparelho fotográfico.
Autodidata, fotografava como um modo de interagir com as pessoas. Aos poucos começou a publicar suas fotos em revistas brasileiras importantes (Quatro Rodas, Setenta, Claudia, Goodyear Brasil) como estrangeiras (Life, Look, Fortune, IBM, Horizon USA, Aperture).
Em 1958, graças a Darcy Ribeiro, entrou em contato com indígenas pela primeira vez durante uma visita à Ilha do Bananal, terra dos Karajá. Algumas dessas imagens foram compradas por Edward Steichen, então diretor do Museu de Arte Moderna de Nova York, e depois foram publicadas pela Life.
Em 1971, uma edição especial da revista Realidade sobre a Amazônia a conduziu até os Yanomami, que resultou em uma importante mudança na sua vida, deixou o fotojornalismo, indo viver entre Roraima e Amazonas em tempo integral.
Em 1978, expulsa do território Yanomami, voltou a São Paulo e organizou um grupo de estudos em defesa da criação de uma área indígena Yanomami, que deu origem à ONG Comissão pela Criação do Parque Yanomami, CCPY, que depois viria a ser conhecida como a Comissão Pró-Yanomami, criada por Claudia e pelo missionário leigo italiano Carlo Zacquin. A comissão foi responsável por liderar uma grande campanha pela demarcação da terra indígena Yanomami, concretizada em 1992.
“Minha família são os Yanomami.” Desde os anos 70, Claudia Andujar ajusta suas lentes para captar o espírito desse povo enquanto luta pela preservação de sua cultura. Fotos suas estão no Museu de Arte Moderna de Nova York, na Fundação Cartier de Arte Contemporânea em Paris, na Pinacoteca do Estado de São Paulo e no pavilhão dedicado à sua obra, no Instituto Inhotim, em Brumadinho/MG.
“Meu envolvimento com os povos minoritários tem suas raízes dentro de minha própria história”, explica. “Provavelmente, tem muito a ver com o fato de eu ter perdido toda a família do lado do meu pai na Segunda Guerra, durante a perseguição dos judeus na Hungria.”
Claudia Andujar (Ericó-RR), da série Marcados (1981-1983) – Acervo Instituto Moreira Salles/Cortesia Galeria Vermelho.
Claudia Andujar (Papiú-RR), da série Marcados (1981-1983) – Acervo Instituto Moreira Salles/Cortesia Galeria Vermelho.
Encontros musicais Suíça-Brasil
Villa-Lobos, Ernest Ansermet e Thierry Fischer
Desde 2020, a mais importante orquestra sinfônica do Brasil, a OSESP – Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, tem à sua frente, como Diretor Artístico e Regente Titular o maestro suíço Thierry Fisher.
No dia 1º de outubro de 2023, o Consulado-Geral da Suíça em São Paulo promoveu um grande evento cultural “Brasil e Suíça Juntos”, na belíssima Sala São Paulo, sede da OSESP, reunindo 1200 pessoas para um concerto de Thierry Fischer, uma mostra destacando 10 personalidades suíças que tem marcado o Brasil, e o lançamento do livro “Uirapuru – do Tédio de Alvorada ao Uirapuru: Partituras de estudo comentadas”, na ocasião de uma grande recepção que seguiu o concerto. Foi o maior evento cultural organizado pelo Consulado-Geral de São Paulo.
Neste concerto, a OSESP executou pela primeira vez, desde 1925, o poema sinfônico Tédio de Alvorada de Villa-Lobos, do compositor brasileiro Heitor Villa-Lobos, que está na origem do famoso Uirapuru. O material completo desta partitura ficou conservado na Biblioteca Municipal de Genebra “La Musicale”, e descoberto pelo pesquisador japonês Disuke Shibata recentemente.
Este encontro suíço-brasileiro teve sua origem em 1925, por ocasião de uma turnê na Argentina, quando Heitor Villa-Lobos encontra-se com o legendário maestro suíço Ernest Ansermet, e lhe deu um manuscrito completo de seu poema sinfônico Tédio de Alvorada, e ao mesmo tempo fazendo dele o dedicatário da obra. O manuscrito foi arquivado em Genebra.
O Consulado-Geral apoiou a publicação do livro “Uirapuru – do Tédio de Alvorada ao Uirapuru: Partituras de estudo comentadas”, do musicólogo e membro da Academia Brasileira de Música Manoel Corrêa do Lago, e do maestro e compositor Guilherme Bernstein, que apresenta este manuscrito.
Recuperar este manuscrito na Suíça é de grande importância porque traz à luz mais um elo entre o Brasil e a Suíça e nos permite celebrar uma comunhão de musicalidades que poderia ser considerada improvável, mas que faz parte das relações culturais suíço-brasileiras.
Dos tropicalistas, passando pelo jazz e a música clássica, os encontros musicais brasileiro-helvéticos têm nos oferecido momentos extraordinários de alegria.
Desde 2020, Thierry Fischer é diretor artístico e regente titular da OSESP – Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo.
“Brasil e Suíça Juntos”: o maior evento cultural organizado pelo Consulado-Geral, aconteceu na Sala São Paulo, com concerto do maestro suíço Thierry Fischer para um público de 1.200 pessoas,
uma mostra de 10 retratos de suíços no Brasil, o lançamento do livro “Uirapuru – do Tédio de Alvorada ao Uirapuru”, de Manoel Corrêa do Lago e Guilherme Bernstein, na ocasião de uma grande recepção.
Foto: Íris Zanetti
13) A economia suíça no Brasil: uma presença histórica, forte e dinâmica
A presença econômica da Suíça no Brasil remonta a mais de um século: “Nestlé a partir da década de 1920, Ciba, Sandoz, Hofmann-La Roche a partir da década de 1930, Sulzer, BBC (mais tarde ABB), Bühler, Schindler e Holderbank a partir da década de 1950, tornando a Suíça um dos maiores investidores estrangeiros, com CHF 600-800 milhões na década de 1960, cerca de 3,8 bilhões de francos em 1993 (quinto lugar, atrás dos Estados Unidos, Alemanha, Japão e Grã-Bretanha até meados da década de 1990) e 4,4 bilhões de dólares no final de 1999”, de acordo com o Dicionário Histórico da Suíça.
A partir da década de 1990, outras empresas suíças tentaram a sorte neste país de dimensões continentais, ao mesmo tempo em que “a Suíça caiu para o décimo sexto lugar entre os investidores”. Por volta de 1990, cerca de 230 subsidiárias de empresas suíças empregavam 50.000 pessoas, principalmente na região de São Paulo (71.541 em 2000), de acordo com o Dicionário Histórico da Suíça, que cita os ativos dos bancos suíços no Brasil na década de 2000 em torno de CHF 1,3 bilhão e seus compromissos CHF 7 bilhões.
Em 2025, os investimentos suíços continuarão, como mostra o exemplo da gigante suíça de alimentos Nestlé. Em 29 de novembro de 2023, a Nestlé disse que investiria cerca de 6 bilhões de reais (US$ 1,23 bilhão) no Brasil até o final de 2025, atualmente seu terceiro maior mercado no mundo. A Nestlé instalou sua primeira fábrica no Brasil em 1921, em Araras, no Estado de São Paulo, para produzir leite condensado. Hoje, a subsidiária tem mais de 20.000 funcionários, com unidades de produção em oito estados brasileiros e 25 cidades.
Atualmente, a Suíça ocupa a 3ª posição entre os investidores estrangeiros (dados de 2024 do Banco Central do Brasil). Contamos mais de 550 empresas suíças no Brasil gerando por volta de 90.000 empregos. A grande maioria das empresas suíças está sediada na cidade ou no Estado de São Paulo.
Presença econômica da Suíça no Brasil remonta a mais de um século.
ABB, Atlas Schindler e Nestlé são exemplos de empresas suíças que investiram no país.
14) Organizações relacionadas à Suíça em São Paulo
SWISSCAM (1945) – Câmara de Comércio Suíço-Brasileira
Tudo começou em 1930 com a fundação, no Rio de Janeiro, da Associação das Casas de Comércio Suíças, formada por líderes empresariais suíços. Essa associação funcionava de forma não oficial, oferecendo serviços comerciais bilaterais entre a Suíça e o Brasil. Os membros se reuniam uma vez por semana para almoçar em um restaurante no Rio de Janeiro, onde discutiam negociações e relações comerciais entre os dois países.
Entretanto, com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, os intercâmbios foram interrompidos. Após o fim da guerra, em 1945, a SWISSCAM foi fundada em São Paulo, tornando-se a mais antiga Câmara de Comércio Suíça da América Latina. Atualmente, ela conta com mais de 150 membros, incluindo empresas suíças líderes e empresas brasileiras interessadas em fazer negócios com a Suíça. Ela organiza diversos eventos para promover as relações comerciais entre a Suíça e o Brasil, proporcionando uma rica plataforma de contatos para todos os interessados nas relações econômicas entre os dois países. A Embaixada e o Consulado-Geral da Suíça em São Paulo mantêm um relacionamento próximo com a SWISSCAM, da qual o Embaixador da Suíça é Presidente Honorário.
Equipe da Câmara de Comércio na nova sede, transferida em 1972 para São Paulo.
Foto: Arquivo Swisscam.
Clube Esportivo Helvetia (1962) – ligado à Sociedade Suíça de Beneficência
A “Sociedade Suíça de Beneficência” foi fundada em 1880 como uma associação filantrópica para apoiar compatriotas suíços menos afortunados. Em 1913, adquiriu um local para reuniões, o Rütli, localizado na Rua Barão de Itapetininga, na cidade de São Paulo. Em 1921, a Sociedade comprou um terreno no Jabaquara – Indianópolis, conhecido como “Chácara do Jabaquara”, para construir um sanatório suíço: o Sanatório Suíço Brasileiro foi inaugurado em 1926. A Sociedade decidiu então enfatizar a dimensão esportiva, considerando a criação de um clube e, em 1962, 300 sócios, quase todos suíços, fundaram o Clube Esportivo Helvetia, fazendo da “Chácara do Jabaquara” a sede do Clube, que ainda hoje prospera e do qual a Sociedade Suíça de Beneficência continua sendo a proprietária do terreno.
Clube Esportivo Helvetia, criado em 1962, na Chácara do Jabaquara, por membros da Associação Suíça de Beneficência. Foto: site Clube Helvetia.
Escola Suíço-Brasileira (1965)
A Associação Escola Suíço-Brasileira foi fundada em 20 de agosto de 1965 pela comunidade suíça em São Paulo. As aulas começaram em 28 de fevereiro de 1966, na Rua Pedro Taques, com 53 alunos. Em 1969, foi lançada a pedra fundamental para a construção de sua sede própria na Rua Visconde de Porto Seguro, onde se encontra até hoje. A escola é membro da International Baccalaureate Organisation (IB) desde 1996.
A escola suíço-brasileira de São Paulo oferece uma educação bilíngue de padrão internacional, proporcionando não apenas uma sólida formação cultural, mas também as ferramentas necessárias para o sucesso no Brasil e no exterior. Oferece cursos desde o jardim de infância até o ensino médio, de acordo com o calendário brasileiro, e atualmente tem 760 alunos, 80% dos quais são brasileiros. O corpo docente é formado por professores de várias nacionalidades, principalmente brasileiros e suíços. O ensino é bilíngue, em português e alemão, e o currículo também inclui inglês, francês e espanhol.
A escola é reconhecida pelo governo suíço desde 1967 e recebe apoio das autoridades suíças e de seu cantão patrono, a cidade da Basileia. Faz parte da rede de 17 escolas suíças no exterior, supervisionada pela organização guarda-chuva educationsuisse, e compartilha sua governança com o Colégio Suíço-Brasileiro em Curitiba, uma escola de tamanho semelhante.
A Escola Suíço-Brasileira de São Paulo foi fundada em 1965, com apenas 53 alunos.
Escola SENAI Suíço-Brasileira Paulo Erneste Tolle (1973)
O SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, foi fundado pelo suíço Roberto Mange, e é considerado um dos cinco maiores complexos de formação profissional do mundo e o maior da América Latina. A rede SENAI-SP é composta por 92 unidades permanentes, incluindo a Escola SENAI Suíço-brasileira Paulo Ernesto Tolle, em São Paulo.
A Escola SENAI Suíço-Brasileira foi criada em 1973, por meio de um acordo de cooperação técnica entre a ONG suíça Swisscontact, especializada em treinamento vocacional, e o SENAI-SP, com o objetivo de treinar técnicos na área de mecânica de precisão. Essa parceria resultou em vários projetos de cooperação com a Suíça. O SENAI Suiço-Brasileiro é hoje uma instituição de treinamento vocacional de alta qualidade, referência em todo Brasil.
Interior de oficina de aprendizagem da Escola SENAI “Horácio Augusto da Silveira, na Barra Funda, São Paulo, 1945, Senai-SP – Acervo Memória SENAI-SP.
As ONGs suíças e seu impacto social positivo em São Paulo
Diante dos desafios sociais e das desigualdades econômicas da contemporaneidade, cidadãos suíços atuam na sociedade civil brasileira para contribuir com o desenvolvimento social do país, junto às populações mais vulneráveis.
Em São Paulo, destacamos o trabalho de três ONGs suíço-brasileiras, ARCO, BRASCRI e Casa dos Curumins, que mantêm programas sociais, educacionais, culturais e assistenciais, em localidades distantes do centro urbano da cidade de São Paulo.
O Consulado-Geral da Suíça em São Paulo reconhece a importância do trabalho destas ONGs e desenvolve projetos de parceria, buscando o apoio para suas ações no Brasil e na Suíça.
Arco
Localizada na região do Jardim Ângela, no extremo sul da cidade de São Paulo, a Arco Associação Beneficente foi fundada em 1991 pelo casal Sidney Vinha e Fritz Mauti com objetivo de abrigar crianças cujas famílias não tinha condições de cuidar. Contando com o apoio de diversas organizações, empresas e voluntários e Prefeitura de São Paulo, a Arco foi gradualmente expandindo suas atividades. Inicialmente, com educação infantil e juvenil, e seguiu incorporando novos programas e projetos de acordo com as demandas apresentadas pela comunidade.
Atualmente é administrada pela suíça Heidi Caluori, envolvida com o projeto desde o início. A ARCO gerencia uma operação que beneficia mais de 800 crianças, desde a primeira infância até a adolescência.
Visita do Secretário do Estado Adjunto para as Américas, do Ministério das Relações Exteriores da Suíça, Embaixador François Voeffray Peyro,
à ARCO, acompanhado da equipe do Consulado-Geral da Suíça em São Paulo, novembro/24. Foto: Divulgação.
Brascri
A BRASCRI – Associação Brasil Criança foi fundada em 1993 pelo pastor suíço Hans Jürgen Martin e sua esposa Margrit Martin, com o objetivo de prestar apoio a crianças e jovens que necessitavam de ajuda para integração social e busca de oportunidades, através de ações de inclusão social de crianças surdas, da melhoria da educação de jovens na rede pública de ensino e da promoção do desenvolvimento profissionalizante.
A Associação é mantida graças a doações no Brasil e na Suíça e sua sede está localizada no Bairro de Santo Amaro, em São Paulo.
Formatura dos alunos da Brascri no SENAI Suíço-brasileiro, 2024. Foto: site Brascri.
Casa dos Curumins
A Associação Casa dos Curumins foi fundada em 2005 pelo casal suíço-brasileiro Alberto e Adriana Eisenhardt, com o intuito de dar uma resposta concreta para a superação da pobreza, injustiça e desigualdade social, que relegam às margens da sociedade brasileira milhões de crianças e jovens que, por falta de oportunidades e educação, dificilmente alcançam seus sonhos, mesmo os mais simples. A Associação expandiu seu trabalho, inicialmente direcionado a 80 crianças e adolescentes no contraturno escolar, acolhendo hoje mais de 500 crianças e jovens (de bebês a adolescentes) para atividades pedagógicas (creche, escola de música, pintura, etc.) e prestando assistência às suas famílias. A Casa oferece também atividades de canto coral, dança, ginástica e passeios culturais a mais de 100 idosos.
Banda dos Curumins
Dentre os muitos projetos desenvolvidos pela Casa dos Curumins, a Banda dos Curumins, formada por 16 adolescentes e jovens do bairro da Pedreira em São Paulo, é um dos mais emblemáticos. Em atuação desde fevereiro de 2013, o grupo vem conquistando público e visibilidade cada vez maiores e conta com uma trajetória de mais de 30 apresentações, com shows em importantes espaços da cidade de São Paulo. Um momento marcante na trajetória da Banda foi a apresentação em 2023 no Festival de música Estival Jazz em Lugano, na Suíça, na presença de milhares de espectadores, incluindo o Embaixador da Suíça no Brasil Pietro Lazzeri e da Embaixadora do Brasil na Suíça, Claudia Buzzi.
Banda dos Curumins participa do festival de música ESTIVAL JAZZ, em Lugano, Suíça/ 2023. No palco, o Embaixador da Suíça no Brasil,
Pietro Lazzeri, e a Embaixadora do Brasil na Suíça, Claudia Buzzi. Foto: Divulgação.
15) A integração das agências governamentais suíças na estrutura do Consulado-Geral em São Paulo
Escritório de Turismo/Switzerland Tourism (2004)
A Switzerland Tourism abriu seu escritório em São Paulo em 2004. Atualmente, ele está integrado administrativamente ao Consulado-Geral da Suíça em São Paulo. O escritório da Switzerland Tourism no Brasil se dedica a promover os destinos turísticos suíços por meio de campanhas de marketing, eventos e feiras de turismo, além de fornecer informações úteis e personalizadas para agências e turistas brasileiros. Ele trabalha em estreita colaboração com o setor de turismo. O turismo brasileiro na Suíça está experimentando um forte crescimento, com a marca de 300.000 pernoites ultrapassada em 2024.
Swiss Business Hub (2014)
O Swiss Business Hub no Brasil foi criado em 2014 em São Paulo. Está integrado administrativamente ao Consulado-Geral da Suíça em São Paulo e faz parte da rede global da S-GE (Swizterland Global Entreprise), que é a agência oficial suíça para a promoção das exportações suíças e do investimento estrangeiro na Suíça.
Desde o seu lançamento no Brasil, tem trabalhado para fortalecer as relações econômicas entre a Suíça e o Brasil, apoiando empresas suíças, principalmente PMEs, em sua entrada no mercado brasileiro e promovendo investimentos recíprocos. Desde 2022, também foi incumbido pelo governo suíço de dar ênfase especial à promoção de empresas suíças em projetos de infraestrutura no Brasil.
Swissnex (2014)
A Swissnex é uma agência governamental vinculada à Secretaria de Estado de Educação, Pesquisa e Inovação (SEFRI), que promove intercâmbios de inovação e pesquisa no exterior. Atualmente, existem seis centros da Swissnex em todo o mundo.
O escritório da Swissnex Brazil foi inaugurado no Rio de Janeiro em 2014, com a presença do Conselheiro Federal Johann Schneider-Ammann (então Chefe do Departamento Federal de Assuntos Econômicos, Educação e Pesquisa) e uma delegação de alto nível.
O escritório brasileiro foi ampliado com uma filial em São Paulo em outubro de 2016. Desde então, o escritório da Swissnex voltou a se concentrar em São Paulo, com o CEO da Swissnex Brazil se mudando do Rio para São Paulo em 2025.
A Swissnex também está integrada administrativamente ao Consulado-Geral da Suíça em São Paulo.
16) Instalação de instituições públicas suíças em São Paulo
Pro Helvetia (2021)
Em 2021, a Fundação Pro Helvetia, antes representada pela rede diplomática suíça, passou a operar na América do Sul, financiada pela Confederação Suíça, com o compromisso de promover o intercâmbio cultural e a colaboração artística entre a Suíça e a América do Sul. Devido à sua organização descentralizada, a equipe trabalha em Bogotá, Buenos Aires, La Paz, São Paulo e Santiago (onde está localizada a sede).
A rede Pro-Helvetia facilita e incentiva encontros profissionais entre as cenas artísticas no continente, em todas as disciplinas apoiadas pela Pro-Helvetia. Assim como a diplomacia cultural suíça na América do Sul, atuando desde sua origem na criação de vínculos com as instituições culturais locais, a Pro-Helvetia desenvolve parcerias de longo prazo com plataformas relevantes para incentivar a promoção e a disseminação da criação artística suíça contemporânea na região. Por meio de residências e viagens de pesquisa, incentiva o intercâmbio cultural da Suíça com os países da América do Sul.
Universidade de St-Gallen e o GIMLA (2018)
Como parte de sua estratégia de internacionalização, a Universidade de St. Gallen está presente na América Latina desde 2011. Ao longo dos anos, a Universidade expandiu suas atividades e, em 2018, deu mais um passo ao abrir o St. Gallen Institute of Management in Latin America (GIMLA) no coração da Avenida Paulista, em São Paulo, no mesmo prédio do Consulado-Geral da Suíça (Avenida Paulista 1754). A Universidade de St. Gallen também foi premiada com o mandato de “Leading House” da Confederação Suíça para a América Latina para o período de 2021-2028.
Com base nisso, o Instituto, dirigido pela professora Vanessa Boanada Fuchs, concentra-se na promoção e no fortalecimento de parcerias universitárias através de acordos de ensino bilaterais e multilaterais, projetos de pesquisa e eventos.
O Instituto trabalha em estreita colaboração com a Embaixada e o Consulado-.Geral da Suíça, bem como com outros parceiros acadêmicos locais e com a comunidade de ex-alunos da HSG.
17) Da intensificação da ação diplomática na década de 90 ao dinamismo das relações bilaterais atuais com o Brasil e o Estado de São Paulo
A história diplomática entre a Suíça e o Brasil, iniciada no Rio em 1819, é hoje intensa e enriquecida por numerosos intercâmbios entre atores culturais, econômicos e científicos em São Paulo. Em 1972, a Embaixada da Suíça no Rio foi transferida para Brasília, enquanto o Consulado-Geral em São Paulo continuou a se desenvolver, juntamente com a nova Embaixada em Brasília e a representação diplomática suíça no Rio de Janeiro, que se tornou novamente um Consulado-Geral.
Os contatos governamentais se intensificaram a partir das décadas de 1980 e 1990, quando o Brasil saiu da ditadura militar (1964-1985): os Conselheiros Federais Kurt Furgler (1984), Jean-Pascal Delamuraz (1994) e Pascal Couchepin (1999) visitaram o Brasil para consolidar os laços da Suíça com o país. Em 1998, Fernando Henrique Cardoso tornou-se o primeiro presidente brasileiro a fazer uma visita oficial à Suíça. Desde então, o intercâmbio continuou a se fortalecer, por meio de visitas de alto nível e acordos bilaterais. Em 2008, os governos da Suíça e do Brasil assinaram uma parceria estratégica, criando uma estrutura para grandes intercâmbios e cooperação aprofundada. Os dois países cultivam diálogos nas áreas de política, economia, ciência, tributação e finanças, direitos humanos e propriedade intelectual.
A Suíça e o Brasil concluíram acordos nas áreas de dupla tributação, ciência, assistência jurídica e judiciária, transporte aéreo e seguridade social. Mediante vários instrumentos regionais e bilaterais, a Suíça está comprometida e colabora com o Brasil na proteção ambiental e na sustentabilidade da Amazônia.
Mensagem de Pietro Lazzeri no site da Embaixada da Suíça no Brasil:
“O Brasil é o parceiro comercial mais importante da Suíça na América Latina. Nosso país é um dos maiores investidores no Brasil, onde mais de 550 empresas suíças operam em vários setores, gerando mais de 90.000 empregos e, assim, contribuindo para o crescimento e a prosperidade do Brasil. Em face dos desafios globais, também é essencial que trabalhemos juntos para promover projetos de desenvolvimento sustentável que ajudem a proteger o meio ambiente. Nossa parceria tem um grande potencial e trabalharemos juntos para diversificá-la e aprofundá-la”.
O Estado de São Paulo ocupa um lugar estratégico e central no que se refere aos contatos bilaterais. Essa importância é evidenciada, em particular, pelas várias agências governamentais suíças integradas ao Consulado-Geral da Suíça em São Paulo (Swiss Business Hub, Swissnex, Switzerland Tourism) e pelo apoio que recebe da rede de Consulados Honorários que representam a Suíça em Curitiba (Estado do Paraná), Florianópolis (Estado de Santa Catarina) e Porto Alegre (Estado do Rio Grande do Sul).
Em 2023, durante a visita do Conselheiro Federal Guy Parmelin ao Brasil, à frente da maior delegação oficial suíça que já visitou o país (mais de 140 participantes das áreas da ciência e dos negócios), foi assinado um MoU (Memorando de Entendimento) para fortalecer as relações bilaterais entre a Suíça e o Estado de São Paulo, com foco na economia, tecnologia, inovação e sustentabilidade.
O Conselheiro Federal Guy Parmelin veio ao Brasil em 2023 e testemunhou a assinatura do MoU (Memorando de Entendimento)
para fortalecer as relações bilaterais entre a Suíça e o Estado de São Paulo, no encontro com o Governador Tarcísio de Freitas.
Conclusão
Encerramos este percurso da Suíça em São Paulo com a chegada em 2025 da bandeira da Suíça à Avenida Paulista, quando aconteceu a cerimônia de hasteamento das bandeiras dos 3 Consulados-Gerais instalados no mesmo local: África do Sul, Líbano e Suíça.
Este fato é simbólico para a história suíço-brasileira no seu sotaque paulista e paulistano, que chega aos 165 anos com muitos motivos para ser comemorada.
Destacando o legado da emigração suíça para o Brasil olhamos o presente, relembrando um passado não tão distante que moldou as relações entre os dois países: artistas, escritores, arquitetos, cientistas, empresários, diplomatas, pessoas cujos nomes se perderam na grande travessia transatlântica, homens e mulheres que com seus sonhos e ações escreveram cada capítulo da história que estamos contando e vivendo.
A presença consular no Estado de São Paulo vem crescendo desde a abertura da primeira agência consular em Campinas, no ano de 1860, e continuará a se desenvolver através de um compromisso permanente com as relações bilaterais, como demonstrado pela assinatura do MoU (Memorando de Entendimento) entre a Suíça e o Estado de São Paulo em 2023.
O Estado de São Paulo conta hoje com uma população de 46 milhões de habitantes e uma economia que responde por um terço do PIB do país.
A imigração e a colonização suíça no Brasil tiveram início em 1818, com o decreto emitido pelo rei de Portugal D. João VI, para incentivar a emigração. Os atuais imigrantes suíços no Brasil são uma força a ser reconhecida. O Brasil abriga a segunda maior colônia suíça da América Latina, depois da Argentina. Dos primeiros 2.000 imigrantes, no final de 2023 havia 13.611 suíços vivendo no Brasil, com a maior concentração (cerca de 6.000) no Estado de São Paulo. O número de descendentes de suíços que vivem no Brasil, ou seja, pessoas cujos ancestrais foram imigrantes suíços, mas que não têm mais a nacionalidade suíça, não é conhecido, mas certamente é muito maior do que o número oficial de suíços, especialmente nas regiões que foram o foco da imigração suíça para o Estado de São Paulo (por exemplo, Colônia Helvetia, região de Limeira, Fazenda “Suissa” de Max Wirth etc.).
As contribuições dos suíços foram inúmeras, no campo acadêmico e científico, nas artes, na educação e na economia. Em 1990 havia cerca de 250 empresas suíças, hoje elas mais que dobraram e geram mais de 90.000 empregos de alta qualidade nesse Brasil industrializado e globalizado.
Lembremos que o conceito de desenvolvimento sustentável nasceu no Rio em 1992. Alinhada a essa ideia de interconexão e sustentabilidade, a exposição “Legado suíço-brasileiro na Amazonia: arte, ciência e sustentabilidade”, está itinerando pelo Brasil desde 2023, já tendo passado por Brasília, Porto Alegre, São Paulo, Florianópolis, Rio de Janeiro, Nova Friburgo e ainda será apresentada em Natal e Manaus, rumo à COP 30 – 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que será realizada em Belém do Pará, no Brasil, em novembro de 2025.
A exposição destaca o legado do naturalista suíço Emil August Goeldi (1859-1917) e de seu filho, artista plástico Oswaldo Goeldi (1895-1961), para a biodiversidade da Amazônia e a preservação das espécies. Quem se lembra que este imigrante suíço lançou as primeiras discussões sobre biodiversidade, tema global da atualidade, quando o Brasil se prepara para sediar a COP 30 no coração da Amazônia, em Belém? Hoje, a mais antiga instituição científica da Amazônia leva seu nome, na forma portuguesa que ele adotou: Museu Paraense Emílio Goeldi. Goeldi pertenceu às sociedades naturalistas de St Gallen e Schaffhausen, na Suíça. Estudou zoologia e anatomia comparada em Leipzig e Jena, na Alemanha. Aos 25 anos, estava escrevendo sua tese sobre peixes blindados quando recebeu um convite inesperado: tornar-se vice-diretor do Museu Nacional do Rio de Janeiro, indo posteriormente trabalhar no Museu Paraense, atendendo um convite do governador do Pará Lauro Sodré, onde permaneceu durante 13 anos à frente de uma equipe de cientistas e técnicos. Grande parte da Amazônia foi visitada para formar as primeiras coleções científicas. Legado importantíssimo para a biodiversidade da região.
Essa memória histórica do trabalho dos imigrantes suíços é esclarecedora para a história da Suíça e do Brasil, e continua a se revelar e a nos inspirar.
Tudo começou com os primeiros núcleos de colonização suíça na Bahia, em Leopoldina, em 1818, e Nova Friburgo, em 1819, mas foi no Estado de São Paulo e no livro “Memórias de um colono no Brasil”, de Thomas Davatz, escrito em 1858, que além de relatar a Revolta de Ibicaba, em 1856, retrata a vida dos colonos em detalhes. Em 1951, o historiador brasileiro Sérgio Buarque de Holanda escreveu um comentário histórico sobre o livro: “O livro de Davatz é o único, e daí o seu valor documental. Não é somente a narração dramática da revolta desses pobres colonos contra um fazendeiro poderoso e respeitado que nos interessa como documento humano, mas sobretudo, o estudo das condições de trabalho na fazenda como documento de história econômico-social”.
O exemplo da colônia do Funil também revela o poder das transformações gerenciadas pela imigração. Suas origens estão no cantão de Zurique, após a ação de três colonos suíços, Johann Keller, J. Zumstein e R. Hertensteine, em 1898, apoiados pelo Vice-cônsul de São Paulo, Arnold Wildberger, pelo Cônsul brasileiro em Genebra e por Henri Raffard, filho do Cônsul-geral Eugène-Emile Raffard, do Rio de Janeiro, contra a orientação do Conselho Federal. O governador do Estado de São Paulo, Campos Salles, que havia estudado em Zurique, apoiou os três suíços em seus esforços e continuou a desenvolver seu projeto quando o Conselho Federal se recusou a enviar seus cidadãos. Quando se tornou presidente do Brasil, o nome desse primeiro núcleo de colonização do Funil foi alterado para Núcleo Campos Salles e o sistema de colonização continuou até 1914. Nessa época, o presidente continuou a receber novos imigrantes europeus.
Várias das colônias suíças no Estado de São Paulo tornaram-se cidades que cultivaram a herança de seus antepassados, exemplos de patrimônio para a história do Brasil. Essa memória histórica do trabalho dos ex-imigrantes suíços é esclarecedora para a história da Suíça e do Brasil, e continua a se revelar e a nos inspirar.
Foi assim que a Suíça, por meio de seus “colonos” imigrantes, se integrou, nos últimos dois séculos, ao continente brasileiro e ao Estado de São Paulo.
Sylvie Doriot Galofaro, maio 2025